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Beleza, Arte e Nobreza na Comunidade



Sempre repito, copiando as frentes revolucionárias, a máxima: A revolução não será televisionada!
A revolução a mudança, a diferença vai acontecer em pequenos núcleos, em comunidades...não é de cima para baixo, mas de baixo pra cima como uma explosão. Pequenas ações, quase isoladas, vão fazer a diferença além dos meios de comunicação. Onde o jornal não chega, onde os programas da tarde ou da manhã não chegam, estão os professores, as costureiras, os artesãos, os cabeleireiros, as manicures... 


Sueli Belfort
Gente de tanto talento que nem sabe o quanto. Gente tão simples e tão grandiosa que promove igualdade, força interior e mudança de história. Gente anônima, sem a menor intenção de divulgar seu nome, empresta seu talento com a nobre finalidade de resgatar a autovalorização individual. Parece pouco, não é?  Mas, para quem conhece de perto, só um pouquinho da problemática social, como eu, que por quase dez anos fui funcionária da FEBEM de São Paulo e ouvi inúmeras vezes, de adolescentes, que não se importam em matar ou morrer, simplesmente, porque não existe ninguém que se importe com eles. Sei como é ouvir isso e entender que o que todo mundo precisa é de amor, é de alguém que gaste tempo com ele. Amor, dedicação, bons exemplos, resgate de autoestima, tudo isto junto pode mudar um futuro.

E, foi isso que os garotos e garotas da Cohab Taipas e entorno encontraram, pessoas que cansaram de esperar por condições ou verbas enviadas pelo governo ou alguma ONG, arregaçaram as mangas e por vários meses dedicaram seus finais de semana a ensinar sobre beleza, moda e união. Sem precisar discursar ou falar bonito, todos entenderam a força do trabalho em equipe. Esta foi a segunda edição do Beleza e Arte na Comunidade, organizado pelo microempresário e cabeleireiro da região, conhecido por todos como Ju, pessoa cheia de doçura e força, como só as pessoas raras conseguem unir, com sua determinação mostrou a grandeza de uma comunidade que decide mudar a história de suas crianças.

Ju, microempresário e cabeleireiro, idealizador do projeto






O projeto já tem frutos reconhecidos, alunos da Escola que participam do projeto desde o ano passado já vivem e comemoram as mudanças em seu comportamento e até em seu temperamento. Sueli Belfort, modelo plus size e uma das instrutoras, disse que alunos que antes depredavam a Escola hoje cooperam com o projeto e tem suas notas melhoradas e o comportamento transformado. Mostra da eficácia que só um trabalho feito com amor pode oferecer. O encerramento deste ano aconteceu neste domingo, com um belo desfile com o tema "Reciclagem" com roupas feitas com os mais diversos materias reaproveitáveis: plástico, garrafas pet, latinhas de refrigerantes, caixas de leite e papel...




Os cabelos e maquiagens não deixaram nada a dever a qualquer desfile internacional e na Cantina da Escola, a melhor carne louca que eu já provei. Um desfile cheio de amizade e classe, que só em um trabalho feito com muito amor pode acontecer. Infelizmente, a verba ainda é pequena pra fazer uma festa ainda maior e para o próximo ano, esperamos que mais empresários possam ter o prazer de colaborar com esta festa tão linda. Nós, estaremos lá, de novo, se Deus quiser, pois não são todos  os dias que podemos encontrar tanta nobreza e grandiosidade. Saí de lá alimentadas e grata, muito grata mesmo pelo convite e todo carinho que recebi por lá. Adorei.  Beleza e Arte na Comunidade é um passo a ser seguido.

Algumas fotos deste dia incrível com a assinatura da querida Kelly Hato, que confere um toque de elegância em todo evento. Obrigada Kelly. 

folder do projeto 

eu, pega de surpresa pra falar no palco



eu, ao lado desta pessoa que um exemplo pra mim

Eliane, organizadora do projeto

fiquei encantada com tanta gente linda!


Noivos felizes! Não faltou nada no desfile.

Coral da Comunidade








Conheça mais sobre o Projeto Beleza e Arte na Comunidade e como apoiar esta iniciativa 



 
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Evento Social diminui vandalismo em escola

Por Cíntia Bueno


Dentro das próprias escolas, alunos detonam bombas nos pátios ou nos banheiros, aterrorizando colegas, professores e diretores. Cenas corriqueiras que se tornam banais comparadas às agressões físicas e verbais, atos de vandalismo e bullyngs (termo em inglês utilizado para designar o ato de perseguição, humilhação e intimidação) decorrentes no ambiente escolar.

O Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (APEOESP) realizou uma pesquisa com 684 professores em dezembro de 2006, que revela a agressão física, citada por 82% dos entrevistados, como rotineira e 88,5% os atos de vandalismo.

Já em outra pesquisa, realizada pela UDEMO (Sindicato de Especialistas de Educação do Magistério Oficial do Estado de São Paulo) em abril de 2008 revela que 86% de um total de 683 escolas estaduais entrevistadas relataram algum tipo de violência ocorrida em 2007.

Desordem crescente que afronta o convívio escolar e que inclui a EEPSG Brigadeiro Eduardo Gomes, do bairro Parada de Taipas, em São Paulo, nas estatísticas que rebaixam a qualidade de vida nas escolas do país. 

A educação escolar deve assumir, através do ensino e da aprendizagem do conhecimento acumulado pela humanidade, a responsabilidade de dar ao aluno o instrumento para que ele exerça uma cidadania mais consciente, crítica e participante.

Seguindo este pensamento, em ajudar a transformar o ambiente e melhorar o convívio entre os alunos da escola Brigadeiro Eduardo Gomes, o cabeleireiro e maquiador Jucelino Gonçalves Carneiro, 41 anos, criou o projeto “Arte e Beleza da Comunidade”, que busca a integração entre os alunos da escola e os moradores do bairro. Segundo o idealizador do projeto, Jucelino, o intuito é trabalhar a auto-estima, a quebra de preconceitos e acima de tudo, a valorização humana.

Jú, como gosta de ser chamado, atua no bairro Parada de Taipas há 20 anos, onde tem um salão de beleza em frente à escola. Tal localização pôde lhe proporcionar a constatação da decadência instalada no Brigadeiro Eduardo Gomes. Realidade, também presenciada pela cantora e professora de musicalização Eliane de Freitas da Silva, 38 anos, que se uniu a Jú nesse projeto.

O início

A idéia de implantar um projeto cultural no bairro já havia surgido há aproximadamente oito anos atrás, quando Jú passou a freqüentar inúmeros desfiles e eventos de moda e beleza, mas a decisão somente foi tomada no início desse ano.

Jú encontrou uma porta aberta para realizar o seu tão sonhado evento social, através de um pedido feito pela diretora Márcia Lucas Oliveira, para que o cabeleireiro a ajudasse a recuperar a identidade da escola, em meio a tantos problemas comportamentais dos alunos.

Com o auxílio de Eliane, que hoje coordenada o projeto, Jú realizou em 12 de julho de 2011 o primeiro “Arte e Beleza da Comunidade”. O evento foi um sucesso e contou com a participação de 55 modelos, 15 profissionais da beleza, 12 cantores e 3 dançarinos que trabalharam como voluntários. O projeto recebeu 400 convidados da comunidade, além do total apoio dos comerciantes e profissionais de moda e beleza do bairro.

O resultado foi imediato, as melhorias ocorreram na parte estrutural, com pintura e carteiras novas, e na parte comportamental, onde o índice de vandalismo e agressões diminuiu de forma significante. Hoje a escola Eduardo Gomes assume uma nova identidade, um novo conceito dentro da comunidade.

“Antes era um caos. Depois do evento, a escola mudou. Hoje o ambiente está mais tranqüilo e o comportamento dos alunos melhorou bastante. Conseguimos até pintura e carteiras novas para deixar nossa escola mais bonita”, declara orgulhosa a diretora Márcia.

Com a eficiência do primeiro evento, a escola Eduardo Gomes receberá, no dia 20 de novembro, a 2ª Edição do Arte e Beleza da Comunidade, com o tema “Sustentabilidade – Reciclar é preciso”, que contará com desfiles de roupas confeccionadas com materiais recicláveis, além do uso consciente dos produtos de beleza, como a eliminação do laquê na produção dos penteados.

O evento realizará palestras orientando quanto à separação entre os lixos orgânicos e os lixos recicláveis, produzidos nas residências. Medida que evita a poluição e o impedimento de que as sucatas se misturem com outros rejeitos, facilitando assim, o aproveitamento das mesmas.

Mas as ações do projeto não param por aí, o objetivo é fazer com que, essas orientações expostas no evento, sejam implantadas no cotidiano dos alunos e professores em sala de aula.

Para o idealizador do projeto, a proposta está em integrar alunos, professores e direção junto às pessoas da comunidade. “Se nos unirmos, podemos melhorar a escola e o bairro, fazer com que essas pessoas se respeitem e venham a respeitar o lugar em que vivem”, afirma Jú.

Já para a coordenadora do evento, as metas vão além. “Queremos valorizar a beleza interna de cada um, melhorar a auto-estima das pessoas e mostrar o que cada pessoa tem de melhor”, diz Eliane.


Arte e Beleza para todos

Tal êxito na realização do “Arte e Beleza da Comunidade” despertou interesses de outras escolas da região em implantar o projeto em seus ambientes escolares, propiciando a todos os estudantes o acesso e contato com os conhecimentos culturais básicos e as práticas de cidadania.

A próxima escola a receber o evento é a EMEF Padre Leonel Franca, localizada no bairro Jardim Rincão, região Noroeste de São Paulo. O tema escolhido foi “Raças Brasileiras”, onde as três raças (portuguesa, africana e indígena), que originaram o povo brasileiro, serão representadas em forma de músicas, danças e desfiles de roupas, penteados e unhas artísticas.

Os preparativos estão a todo vapor. Comerciantes e profissionais da beleza do Jardim Rincão estão apoiando o projeto, assim como ocorre em Parada de Taipas. Segundo a direção da escola, o evento ajudará a melhorar o ambiente escolar, como aconteceu na escola Eduardo Gomes.

“Sou cliente do salão do Jú e quando ele comentou comigo do projeto, não tive dúvida, fiz o convite para ele realizar o evento da nossa escola também”, diz Márcia da Penha Resende, Coordenadora Pedagoga da escola Leonel Franca. Márcia relata que o maior problema da escola está no comportamento dos alunos e espera que o “Arte e Beleza da Comunidade” ajude nessa questão.

É a primeira vez que o projeto será implantado fora de Parada de Taipas, mas a idéia, segundo o Jú, é levar o evento para outros bairros da periferia de São Paulo. “Queremos levar um pouco de alegria, esperança e confiança para todas as comunidades carentes de cultura e lazer. A intenção é fazer com que o respeito e a igualdade prevaleçam no convívio dessas pessoas”, diz Jú.

Dagmar Maria Leopoldi Zibas, pedagoga e professora de Psicologia da Educação pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), defende a tese de que o grau de rebaixamento de todo o processo educativo é de tal ordem que nossos jovens não possuem instrumentos para construir canais mais produtivos para expressar suas frustrações. “É um protesto difuso, explosivo e não elaborado, mas claramente voltado contra a implacável deterioração institucional, a inutilidade da freqüência às aulas e a completa desesperança de encontrar na escola a chave para um futuro melhor”, afirma Dagmar.

O “Arte e Beleza da Comunidade” aparece como uma alternativa de unir cultura, lazer e educação em um só ambiente, uma forma de combater a violência física e psicológica, encontrada nas escolas. “Mais do que auto-estima, queremos descobrir os talentos escondidos nas comunidades e fazer brotar a arte e beleza dessas pessoas”, afirma a coordenadora do evento.

O conceito do projeto está em acreditar na importância que a escola exerce na vida de toda uma sociedade. O educador e filósofo Mario Sergio Cortella define exatamente a essência do evento, em uma pauta publicada na Revista Educação. Segundo Cortella o ambiente escolar proporciona uma experiência sociocultural insubstituível, não apenas por ser um espaço de convivência, de formação e informação, mas também porque lá há lugar para os sonhos, tristeza, compartilhamento, desejos, enfim.